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abril

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  Olha, avô! Olha, a nespereira que plantei. A nespereira que me deste para levar para a escola. Está linda! Cheia de frutos que o tempo deu. E as crianças, que hoje estão livres, decoraram a sua sombra com os cravos da liberdade que viveste. Olha, avô! Olha, como a escola onde eu andei está bonita. Pintada de alegre vermelho. As professoras ensinaram aos meninos o significado do dia de ontem. As crianças cantaram, livres, as palavras que o vento trouxe neste 50 anos de abril. Olha, avô! Olha, a escolinha do teu bisneto, fez uma bandeira com as mãos dos meninos. Cantarão uma Grândola quando crescerem mais um pouco. Saberão que o que vivem é a liberdade de uma gaivota num voo sobre o mar. Saberão, um dia, com a dedicação de todos nós, que abril se fez da coragem. Que abril se fez pelo fim do medo. Que abril se fez no coração dos homens.  Sabes, avô, ontem, ouvi o "Depois do Adeus" e chorei. Parece que estive lá. Mas chorei de apreço pela coragem. Chorei de ver os meus filhos,

Solidão

 A inspiração aparece do nada! Há um momento... E depois desaparece. A solidão permanece. O que está cá, fica cá. Apenas acrescenta mais vazio. E assim ficamos. Sós. No meio da multidão de pessoas, de afazeres, de deveres. E nada mais acontece. Recolhes-te no mundo infeliz e triste que acompanha o teu coração. Aí ficas. Sais? Dificilmente. O sorriso e a gargalhada pública nada têm de teu... Têm muito dos outros que a gostam de ouvir. Dizes as coisas certas e, para eles, és feliz e cheia de vida. Apagas-te de um mapa de gente. Ficas à deriva. Com palavras singelas. Choras muito sem razão aparente. Tens um alfinete gigante que se espeta no teu peito... É a tristeza a instalar-se... Como uma vacina. Entretanto, já encheste ribeiras com lágrimas. Mas tu ficas seca. E nem uma mais consegues libertar. Ficas ali. O aperto no peito. O alfinete. E a solidão é tão maior que o mundo. Qualquer respiração fora do ritmo te exalta e te leva ao desespero. E por mais que fales, sentes que ninguém te ho

Fita de cetim

Ali estavam. Frente a frente. Retiraram os óculos escuros. Olharam-se nos olhos. Profundamente. Levemente, a fita dourada de cetim que guardava o peito, desceu. Desnuda, do vestido e dos conceitos, levantou o pescoço delineado a ouros fios e sorriu. O olhar dele aproximou-se de uma auréola e sem medo, sem receio, sem dúvidas, amou o beijo que lhe deu e agarrou-a contra si. Rapidamente, o que parecia ser algo digno de um filme em câmara lenta, ganhou força, sons carnais, humidades sobrehumanas e pináculos criativos de prazer. Como cubo de gelo ao sol de Verão alentejano, os corpos suavam no requebrar de cada gemido. Fizeram muito mais do que amor. Fizeram vida. Fizeram-se vivos. Encendiaram os corpos. Queimaram os medos. Foram capazes de sentir que estavam ali. Apenas e só ali. Naquele canto do mundo que era só deles. Naquele pedaço de céu quente. O cheiro fecundo que exalava pelo ar não fazia acalmar nenhum dos dois. Uma e outra vez. E outra. E outra vez. Sem tempo. Sem relógio. Sem na

Subitamente

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E o suspiro, Quente, Que abafa o coração Estremece. Leve, O toque na nuca Que inebria Os sentidos. Os lábios Que se abrem Ao céu Ovalam, Em si, O doce beijo Que demora. Cai. Nos braços Longos Que amparam o peito Que se despe Em cada Ar de súbito Prazer. Bay Mónica Sofia

Mar

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Ah, mar de águas calmas Luzentes e frias. Remoinho de sentimentos. Agueiro perdido. O sol, Que brilha na tua pele salgada Irrompe por entre nuvens Desditosas de ventos plenos. Querer-te Dentro do beijo que não há. Fugir, De um sopro, Ao mar. Saciar o meu no teu banho de espumas. Sentir. By Mónica Sofia 

Alento

Dá - me um alento Dá - me um beijo na alma Que te quer E te perde em cada ausência Dá - me um momento Dá - me a fuga À realidade desajeitada Que me ofusca Dá - me o tempo Dá - me a vida Que me deste E que sumiu Dá - me um alento Suave beijo Em pescoço desnudo, Carnudo. Dá - te. By Mónica Sofia

A estante

Foram demasiados anos a não poder tocar naquela estante. Cada lombada. Cada folha desalinhada. Não havia ordem para abrir a porta envidraçada que fechava os segredos daquela casa. Os sinos da capela da quinta tocaram pacientemente. A aldeia soube. O Senhor morreu. As carpideiras e os véus negros, enraizados no povo, desfilaram debaixo das arcadas graníticas. Sara subiu as escadas, sorrateiramente. Entrou na sala dos livros. A sua inquietude de menina voltou. Rapidamente rodopiou nas memórias, nas tentativas de perceber. O avô nunca deixou. O pai nunca permitiu. Sara sempre fora afastada violentamente das reuniões familiares. Sempre que tentava entrar, a porta era fechada. Tinha dias que não dormia. Passava as noites em claro. Sentia que ela era o assunto. O avô, o pai e o tio. Sentia o peito apertado. Gritava por dentro a raiva que lhe assombrava os dias. Não ousaria sequer fazê-lo ao pai ou ao avô! Agora, que o corpo ainda era vigiado pelas vel