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Mostrando postagens de fevereiro, 2017

Conjugação verbal

Há uma ansiedade constante. Permanente! A falta, a sensação de andar perdida, a incerteza de que estamos bem. Num trocadilho constante de palavras, eles soltam a imaginação. Prendem-se nos laços que cada palavra cria. O duplo sentido de cada frase, o significado discordante de cada linha. É neste jogo que se perdem, é neste jogo que se embrulham, é neste jogo, saído das suas mentes sintonizadas na mesma frequência, que se perdem. Cada vez que a resposta chega, a incerteza apodera-se deles. Será que é mesmo o que estou a pensar? Da literatura ao mundo corriqueiro, dos verbos à adjetivação. Tudo neles serve de motivo para uma conversa, banal, fora de horas. Sentirão ambos a falta? Certamente que não. O mundo é muito mais fácil para uns do que para outros. Se a descrição exaustiva e pormenorizada demora tempo, se cada detalhe é analisado, quando a ação regressa à cena, que se espera? Terá a coragem o efeito necessário? Será o dia e a hora o momento oportuno? O verbo foi encont

Borboletas

Nem sempre me consigo concentrar no essencial. As vidas que existem em meu redor, são tão intensas como vazias. Vamos conhecendo as pessoas, passo a passo. Umas mostram-se, que nem um livro aberto, onde podemos folhear cada página, lentamente e com muito prazer. Outras, abrem um livro, mas de conto de fadas, e pensam que todos mergulhamos nas suas histórias fantásticas, de mundos perfeitos e redomas de vidro impenetráveis. Outras ainda, não abrem o livro. Deixam-no fechado. Completamente.Estão no seu direito e não têm porque não o fazer. Pessoalmente, gosto de falar. Muito! Por isso, muitas vezes, acho que posso dar uma ideia errada. Comunicar é essencial para a minha leve existência. Não sei se posso dizer tudo o que às vezes penso. As experiências levam-me a aprender e a mudar, aliás, vejo a mudança como um processo de amadurecimento, de puro devir. Há palavras que vamos aprendendo e reutilizando! Tenho receio de dar a entender mais do que aquilo que devo. Estou sempre a t

Depois de falar

Quando a conversa flui, quando as palavras te saltam pelos dedos, quando te sentes a chegar, voltas ao início. Podes não ter dito o que querias, muito menos o que pensavas. Podes sempre dizer o que pensas, mas com reservas. A adequação do ser humano ao ambiente que o rodeia já vem da maçã de Adão. Certamente que a Eva de adaptou. Certamente que a maçã lhe deu calor e ela sentiu necessidade de se aquecer! Não é fácil criar uma cápsula, onde nos encerramos para não mostrar aos outros o que somos e quem somos. Estar rodeados de olhares indiscretos, de pensamentos abusivos e até de escárnio. Ser observado por cada jeito e trejeito. Rejeito os padrões. Não sei ser diferente de mim. Resguardo-me, talvez não tanto como deveria, mas resguardo. A minha vida e os meus pensamentos. Os pronomes pessoais assim o demonstram. Ao que é meu, nada me tira, contudo, nem sempre é fácil a calma e não mostrar o quanto algo que se ouve nos pode afetar. Ouvir comentários injuriosos, que tentam sair em

Sentir

Uma mão que passa no rosto suave de uma barba desfeita à pressa. É como uma impressão digital que te fica marcada na alma. Não consegues disfarçar, tremes e agitas o peito inconsolado. Sentes as batidas aceleradas. Negas o que pensas em cada instante. Levitas por entre paredes que te cercam a realidade. Os sentimentos que ocupam a razão nem sempre têm que ter explicação. Sentes! Ponto. Imaginas um mundo recheado de coisas boas, como se de bombons fosses feita. Lentamente, por entre todos os que estão na caixa, a mão gulosa te escolhe. Acaricia o papel dourado em que te embrulhas. Revela, cuidadosamente, as letras da publicidade para segundo plano e despe-te. O teu corpo, de um aromático chocolate com canela, começa por ser lentamente saboreado. Derretes, sem saber como, és um bombom nas mãos de alguém. Deixas que te sorvam, que de ti retirem o melhor. Que de ti se inspirem. Que de ti se riam. Que de ti se aproximem. Tudo não passa de um jogo. Retiram-te a razão e a emoção. Levam-

Este dia, este ano, esta vida

Relembrar a juventude, a força que tinha um olhar, uma rosa perdida que alguém acabava por recusar. Nem sempre este dia traz boas lembranças. Uma caixa, pequena, muito pequena, apenas com dois caracóis que caminhariam, lado a lado, para toda a vida. Um livro, "Muito meu amor". Não esquece. São coisas pequenas. Sentidas! Vividas. A banda sonora desse dia de 1998 foram os Excesso, Boysband em sucesso crescente na altura. Concerto ao vivo. São coisas que ficam. A resiliência fazia parte do processo. Para ele, aguentar "Eu sou aquele que te quer, e mais ninguém, amor é só quereres porque eu só quero, bem!", ato de coragem... ou de amor? Foi lindo! (Na altura foi sentido e vivido como algo lindo! mas a esta distância...) Pelo menos a recordação ficou, o sentimento permanece. A paixão de outros tempos, transformou-se! Mostra-se, entre momentos, revela-se em pormenores, desvenda-se em segredos, sussurra-se em sonhos, aconchega-se em conchinha! Não desilude, mas f

Ali

Não aparecia desde cedo. O sentimento de frieza que se arrastava desde a última semana, transparecia que o fim chegara. Será? As relações entre as pessoas podem ser misteriosas e confusas. Estamos juntos e não queremos. Queremos mas sem querer. Fugimos porque queremos estar perto. Chegamos porque queremos partir. Lembramos para conseguir esquecer. Sentimos o que não queremos. Buscamos o que faz sentido. E continuamos, sempre, dentro do balancear das ondas da vida, a fugir da crista da onda, puxando o remo deste barco, com a audácia dos desajeitados. O céu estava a seus pés. Ela olhava fixamente as nuvens que se moviam como algodão sincronizado pelo tempo. No seu olhar, toda a imensidão de branco que se afundava por entre aquelas serras, fazia crescer as lágrimas da incompreensão. Não tinha procurado nada, não tinha perguntado. Apenas encontrou. As almas quando se tocam e se entendem, fazem combustão. O seu olhar, continuava fixo. Não tinha coragem de enfrentar o que atrás a esperava.