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Mostrando postagens de junho, 2015

Olhar

Há olhos e olhares. Há momentos que se eternizam num olhar. Há pensamentos que se enredam no olhar puro e cru. Há... Gosto de ouvir histórias, principalmente quando não me são contadas. Gosto de estar atenta e sentir. Foi o que aconteceu num destes dias, não sei bem quando, nem qual, nem onde. Ela falava a uma alguém, via telefone. Os olhos dele tinham-na penetrado de forma invulgar. Ela não conseguia esquecer aquele momento, em que os olhares se trocaram. Nunca mais se viram, mas ela não esquecia. Não sei o que lhe diziam do outro lado do telefone, mas ela só respondia que sabia. Encontrei-lhe uma aliança no dedo da mão esquerda. Ainda brilhava a novo. Recente e com dúvidas? Quem seria o estranho dono daquele olhar que a fazia ter tanto medo de si própria? Ao que parece ela não sabia e parecia querer não saber. Será? Muitas vezes, ao longo das nossas vidas, cruzamo-nos com esses olhos, que parecem transportar o mundo dentro deles. Mas, quantas serão as vezes, que esses ol

Parir

Natural, tão natural como humano. Receber a nossa cria nos braços, ainda por limpar. Sentir o choro quente, abraçar o gemido frio que liberta, cheirar a sensação de plenitude. Estar rodeada de gente, ver sorrisos, ouvir risos, transpirar suor de mãe. Aquecer no colo aquele ser parido com esforço, vivido intensamente, cada sopro, cada respiração ofegante, cada contração gritante. Não tive nada disto! Sou menos mãe e menos mulher por isto? Ter conhecido o meu filho 4h30 depois de ter nascido faz de mim uma fraca? Uma vergonha para as mulheres que conseguem ser verdadeiros animais de instintos e parir quase de pé? Sentir-me morrer, durante 21h, faz de mim  um ser menos capaz? Entrar num bloco, com a sensação horrível de ir para um matadouro, onde me colocam agulhas, panos e máscaras. Sentir, na voz de um anjo velho, o perigo que me acompanha, faz de mim menos... alguma coisa? Canso-me. Estou sozinha, não tenho o meu marido a segurar a minha mão, nem a acalmar a minha respiração.