O Pinhal
Este texto é uma fotografia que vocês não vêem. Aqui, junto ao monte de areia coberto de caruma, estou eu. Em pé. Feita menina grande que cresceu pouco. Calça curta. T-shirt branca com desenhos esquecidos pelas lavagens. Viria já de outra prima mais velha, certamente. Cabelo curto, de rapaz feito o corte, louro. A manta que no chão recebe o lanche é aos quadrados vermelhos e castanhos. Tem um remendo no canto esquerdo inferior. Não se vê na fotografia. O meu avô tem as pernas estendidas sobre ele. Tem uma camisola castanha. Três botões. Dois mal abotoados. A boina, de xadrez muito pequeno que lhe cobre a careca de tantos anos, está de lado. A minha avó, pequena e roliça, ao lado dele. Sentada. Fora da manta. Está de preto vestida. O irmão morreu há pouco tempo. O seu ar de mulher trigueira e perspicaz está lá. Do lado esquerdo desta fotografia, está a minha mãe. Com bata cinzenta e botas duras. Vislumbra-se, desfocada, a traseira da