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Mostrando postagens de março, 2017

Coisa danada!

É tramado! Sentir é assim. Um mar constante de ondas gigantes que vão e vêm. Tocar nos sentimentos de cada um. Cada vez que a onda se desfaz na areia desta praia, é um puro afastamento que surge. O olhar fica estático perante a força imensa deste mar que continua a ir e a vir. Temos dias em que o mar parece que abranda o ritmo, mas nem por isso deixa de ir e vir. Outros temos em que o som avassalador das ondas a quebrar na praia nos fazem sentir como se dentro delas nos encontrássemos. Num remoinho que nos prende na sua espiral e nos arrasta até ao fundo. É aí, nesse fundo de um remoinho, que encontro esta coisa danada a que chamo saudade! Nunca tanto me fez amargo de boca.  Nunca tanto me causou estranheza. Nunca tanto me fez pensar. Tenho em mim a doçura dos sentimentos que me afetam. Tenho em mim esta dor de sentir sem querer. Tenho em mim a vontade. Dizer não, à saudade, é tão difícil.

Manifesto pessoal

Sabes quando tens a coragem de seres o que és e pensares como tu mesma queres pensar? Sabes a sensação de não te castrares a ti mesma? Conheces o momento em que dás conta de que existes? Alguma vez percebeste o quão importante tu és na tua vida? Já trocaste o nós pelo eu? Temos dias assim, em que conseguimos colocar em causa tudo o que nos aparece como sendo garantido. Temos dias em que não nos deixamos abater por momentos menos bons. Temos aqueles dias, momentos, em que sabemos que a nossa missão é dar, é estar com os outros, é ajudar. Raras são as vezes que paramos para nos ajudarmos a nós próprios. Sou um ser pensante. Tenho inteligência, sagacidade e capacidade de ser muito mais e ter muito mais para dar. Quero ser dona da minha capacidade. Quero ser dona dos meus pensamentos, das minhas forças e das minhas fraquezas também. Se estou lá, é para estar e fazer. Quero lutar pelo que acredito. Quero ser capaz de fazer mais e melhor. Quero, quero, quero! Se para conseguir p

Palma

Viver rodeada de gente. Construir um alicerce. Procurar a tranquilidade. Deixar correr o rio sem diques. Lavar a cara com as desilusões. Buscar em cada palavra o alento. Sentir-se só! Não é preciso percorrer as entranhas para encontrar o fel da vida. Basta olhar e ver. Ver quem nos rodeia, quem nos absorve a energia e quem nos esgota da inveja pura. Não me perco facilmente, mas prendo-me. Encontro-me na esquina do desalento. A raiz quadrada desta conta é analfabeta. Ao cruzar a rua, de passo apressado, o embate foi forte. Caiu. A mão ergueu-a e seguiram caminho. — Sabes que os beijos se dão na palma da mão? A sensibilidade está aí, à flor da pele! É que está mesmo! Contudo, o beijo segue.

Caixinha

Momentos. Não posso pensar sem eles. Podem ser pequenos, podem ser longos. São meus, da minha memória. Há, em todos os dias, alguns que nos marcam como tatuagens. Também os há que ficam guardados eternamente numa caixinha pequenina, no fundo da nossa mente, onde apenas nós conseguimos chegar. Somos nós os detentores daquela chave mágica que sempre sabe o código para o caminho a percorrer. Não foi dessa forma que chegaram lá. Havia muitos caminhos a percorrer. Talvez tenham escolhido o mais fácil, ou talvez não. Muitas vezes, o que aos outros olhos parece ser o mais fácil, acabará por ser o mais difícil. Mas não deixará de ser o caminho escolhido, o caminho traçado ou até mesmo o caminho desviado. Quando temos uma obra na estrada, fazemos um desvio, e mais à frente, voltamos à estrada original. Será este o percurso da vida? Desviar e voltar ao original? Ou teremos na nossa caixinha a verdadeira intenção? Não saber o que nos espera torna a vida aliciante, contudo, também prov

Castelo

Ao percorrer as ruas de uma cidade quase vazia, numa tarde quente de verão antecipada, percorro não só as pedras, mas também as portadas das janelas entreabertas. Dentro, de cada uma das paredes encerradas das modestas casas, descubro apontamentos de vida. Uma foto, desgastada e quase dessimulada pelo tempo, pendurada torpemente na parede caiada de um branco sujo da idade. Uma cadeira de tempo velho, range no movimento lento de quem se senta e acomóda primitivamente. Um olhar esbugalhado pelos dias atrai a minha atenção. Não se sabe se me vê, mas parece encontrar no vazio a sensação de busca e perda de memórias. Não é a vida que lhe traz a paz, nem o momento que lhe traz a saudade. São os sorrisos de uma criança, despegada das roupas, que brinca a seus pés. A lente da minha vida precoce, surge com o efeito mais limpido naquela luz que percorre aquele rosto. As rugas de uma vida em trabalhos árduos. Os sentidos trocados naquela pele que de suave nada teve. É em cada esquina daqu

Não, é sim!

Sentir que se está a perder. Não ser capaz de aproveitar cada segundo. Ter medo de agir. Tentar escapar aos olhares diretos. Parecer normal. Não tocar. Não sentir. Não beijar. A tudo isto se pode juntar um pouco de pó de ansiedade. Umas borboletas no estômago. Um sorriso nervoso. Um olhar desviado. Ao medo, a vida num sopro. À vontade de agir, um nervosismo intermitente. Às certezas, todas as dúvidas. Não saberei nunca como explicar. Talvez apenas com o coração. Em todas as histórias que ouço, quando de medo se trata, há sempre alguém que enfrenta o próprio medo e que foge da sombra. Há sempre alguém que pula o muro e traz a fruta da árvore alheia. A palavra não, é a que mais me sai. Julgo que a cada um de nós, deve ser a palavra mais fácil de proferir. Quantas vezes o não quer dizer sim. O nada quer dizer tudo. O ninguém quer dizer tu! Estou aqui!

Em espera

Numa sala de espera. Num mundo de esperas prolongadas, impacientadas. Procuro nos olhos de tristes sentimentos, vagas esperanças, histórias momentâneas. Ao fundo, onde a tv silenciosa se amplia para aquela voz de setentas, conta-se a história de amor de uma mãe que fugiu para Évora. Foi uma paixão ruim que ma levou, mas que a fez feliz. De todas as coisas que fez, a mais acertada foram as duas bofetadas que me deu quando lhe disse que me tinha abandonado. Disse-me que o fez por ela, e que o faria por mim se assim precisasse. Fez a coragem parecer medrosa. Hoje, agradeço. Foi o exemplo dela, da minha mãe que cheirava a rosas e malvasia. Foi a sua coragem que me fez ser feliz. Ainda hoje lhe agradeço em oração. Ao lado destes setenta anos, alguém lhe diz que Deus não lhe deve ter perdoado, deixar marido e filhos e seguir o coração. Mulher do norte! Resposta afiada e coração tão quente como a boca. — Deus? Deus ensinou-me a ser feliz. E quando não há amor a um homem? Tenho que lhe

Mulheres

Ser! Simplesmente, ser! Ser-se por intermédio das casualidades genéticas. Ser-se por favor divino. Ser-se por se ser perfeita. Não poderia deixar de o dizer, de o sentir e de o querer. Ser mulher, hoje, tem desafios. Diferentes, mas continuam. Tenho muitas mulheres na minha vida. Umas permanecem em mim, para sempre. Sem estarem em presença, farão sempre parte deste séquito que me acompanha, que me fez surgir, crescer e sentir orgulho em mim, nas minhas raízes, nas minhas belas flores que povoaram este jardim da minha essência! Saberei identificar em cada uma delas um traço em mim. Mudança sempre me fez bem. Mudar faz parte do crescimento interior. Mudar fez de mim a mulher determinada e mais apreciadora de mim mesma. Sempre vi nelas, nas da minha vida, rasgos de vontade que não se concretizavam, que não se realizavam. Seria falta de vontade? Nunca. Era a vida! Eu acredito em mim, enquanto mulher, tenho em mim a obrigação de me ser feliz e de trazer aos que me rodeiam o trilho

Vidraça

Encontraram-se num rompante de tempo chuvoso. O abrigo da chuva, acolheu aqueles corações. Num aperto de gente em correria, entraram naquele comboio, que não sendo de corda, fez girar o coração. Subiram no degrau da admiração. Desceram pelo do fascínio. Ficaram segundos com os olhos fixos um no outro. Pareceram horas, de tão lento ter parecido. Recuperaram o fôlego. Agarraram a linha da vida que seguia no comboio. Encostaram-se numa vidraça estilhaçada por uma pedra de loucos. As palavras não surgiram, voaram nos pensamentos que saíam pela retina de cada um. Esvoaçaram com o vento que a maresia do mar calmo lhes trouxe. Naqueles dias, em que tudo parece acontecer, em que nada é por um mero acaso, os caminhos que se entrelaçam são apenas quelhas perdidas num interior desertificado. Num norte robusto e forte. É aí, onde ninguém habita, que o sinal de gps destes corações se encontra. Mesmo no reboliço citadino, mesmo na confusão decretada pelos horários acelerados, há tempo. Por

Eça inspiração

"A figura que no escuro dos cortinados lhe aparecia, num vago dourado que provinha do reflexo dos seus cabelos soltos, era a Gouvarinho — a Gouvarinho que não tinha o esplendor da Renascença como Madame Rughel, nem era a mulher mais linda em que Baptista pusera os seus olhos como a coronela de hussardos: mas, com o seu nariz petulante e a sua boca grande, brilhava mais e melhor que todas na imaginação de Carlos — porque ele esperara-a essa noite e ela não tinha aparecido." Tal como Eça coloca no pensamento de Carlos o fascínio pela imaginação, também eu, pobre douta das palavras esquecidas, trago em mim, momentos assim. Não saberei nunca explicar porquê. Não o tentarei. A vida surge-nos de improviso. Atrai até nós dois lados da história. O que aconteceria? Anatomias e biologias, conhecimentos de experiência feitos. Teorizar não me fascina. Trazer à luz dos meus sentidos os desejos obscuros. Dar vida às fantasias e parar além, no meio de uma estrada percorrida de socalcos

Marços

Este, aponta ao coração. Sinto tanto a falta de quem me fez crescer. Eram tempos lidos nas linhas de uma vida, gasta pelo sol, recheada pela alegria e esforçada pela responsabilidade do sacrifício. Terei em mim muitos dos seus traços. Guardarei no meu canto, no meu pensamento mais doce, as madrugadas raiadas de névoa, por entre os campos de feijão, abóboras, milho e tantas mais quantas a natureza te presenteava do esforço. Na tua partida, dediquei-te as minhas singelas palavras. Foste mulher de convicções. Contigo, aprendi a respeitar, a ser mulher, a crescer e a ser mãe. Tantas foram as nossas zangas, por amor, por muito me quereres. Em ti, vi o sol e a lua, a noite e o dia. Em ti, senti a dor e ausência. Perdeste tantos! A tua mana, chegou junto a ti à pouco tempo. Estou a imaginar, as três, juntas ao São Pedro a dançar como no batizado do meu irmão! Eram assim, uma casa cheia de amor, desentendimentos breves, nunca mais de cinco minutos. Nas festas da família, onde os sobrinhos

Jogo

Estará o jogo a ser demasiado defensivo? Pelo que vejo, o autocarro da equipa adversária, não só está estacionado em frente da baliza, como se encontra blindado contra todas as munições. Parecem bonecos invencíveis. Muitas vezes é esta a imagem que vemos nos campos de futebol. Uma equipa que quer jogar, marcar, e   a outra que apenas se encontra atrás da sua linha de meio campo, cheia de força indestrutível e que não deixa passar uma bola. Por mais que a outra equipa remate de longe, a bola não chega nem perto da grande área, muito menos da pequena. O guarda redes, da equipa que está com tudo na defesa, quase que nem tem espaço para ver a bola, tal não é a imensidão de jogadores da sua equipa que de avançados e médios, todos em defesas se tornam. A outra equipa, lá vai, batendo contra aquele muro de pedra que teima em não cair. A resiliência faz parte dos vencedores. Eles vão continuar a chutar, a chutar e a chutar, mesmo de longe, porque a água, mesmo mole, de tanto

Chocolate

Serão as relações como um chocolate? Vários sabores, várias intensidades, várias nuances, várias cores. Tenho em mim todas as emoções que me fogem. Não pediram o que lhes trouxe. O acaso, que acaba por ser demasiado obscuro, apresentou-lhes a vida desta forma. Não sabem o porquê, nem sabem como reagir. A cada movimento encenado, surge o acaso novamente. Por mais cartões que passem, por mais ideias, mensagens ou falas. Apresentasse-lhes a vida de tão infame justiça. Crer que tudo é possível. Nem sempre o caminho pode ser percorrido sem reservas. O fim acaba sempre por surgir de alguma forma abrupta. Percorrer estradas sem destino pode ser uma emancipação da alma, contudo, nem sempre se pode pensar que aquele sorriso, que nos indicou o caminho, ou nos atrasou na partida nos quer levar a bom porto. Os caminhos dela foram muito aprazíveis, o problema foi quando ele chegou, descobriu e tudo terminou. A paz desabou em sangue e os corações que se poderiam t